A cópia é o melhor aplauso. Só que não.

26-07-2024

A melhor e mais genuína forma de apreciação é a imitação, sei que já li isto em qualquer lado. Contudo, não concordo.

Não sei se é do cansaço acumulado da semana, da oscilação das temperaturas deste julho bipolar ou se é meramente hormonal, mas não há nada que me irrite mais hoje do que aquele(a) fã baralhado(a) que, ora te enche de doces sorrisos para tentar saber da tua vida e fazer igual, ora apanha qualquer conversa tua a meio e transforma aquilo numa ode de escárnio e maldizer.

Sou crente que ao longo desta animada passagem pelo mundo dos vivos que aqui temos, todos nós, em algum lugar ou circunstância, acabamos por levar com uma personagem tóxica (ou várias) em determinada fase, e tudo certo. Faz parte. É lidar.

No entanto, se há dias que Deus nosso senhor nos brinda com luz divina e conseguimos ter paciência para aturar a inconveniência alheia, há outros…em que Deus se deve esquecer do candeeiro apagado ou não pagou a conta de eletricidade ,e, a única coisa em que a minha obstinada pessoa pensa, é no quão era bom descer do degrau da elegância e arrancar os olhos, com uma colher de café, a estas criaturas que não são pelo bem. Hoje, era o dia!

Não sei o que mais me incomoda (para ser verdadeiramente sincera): se o facto de interromperem constantemente as conversas com intervenções que são um hino ao despropósito, se terem sempre um amigo, parente ou até eles próprios um episódio igualzinho ao que acabas de partilhar, se aqueles olhares curiosos quando te veem chegar, para perceber o que vestes ou o que calças e o que tens de acessório, para no dia seguinte tentar aproximar o figurino, ou ainda e pior do que tudo, quando começam a plagiar as tuas próprias expressões, frases ou interjeições.

Posso apostar que, no seu íntimo, acreditam que se disserem o mesmo que tu, o teu anjo da guarda se confunde e, com sorte, espeta-lhes com uma bênção que era tua, ofertando assim uma energia que não era para ser…mas que lhes foi atribuída, por engano.

É incomodativo, mas pior do que isso, é cansativo e cria (pelo menos em mim, que sou uma alma sensível, claro está!) uma sensação que se encaixa entre a vergonha alheia e a desconfiança…

Não sei se sou só eu (que fui prendada com este excelente feitio à nascença), mas a bom abono da verdade penso que a originalidade só emerge quando estamos em plena conexão com o nosso ser. É um ato de honestidade.

Pela mesma lógica, alguém que imita, copia, parafraseia e como se ainda não bastasse, critica , é no mínimo, desonesto, para não chamar de falso. Não gosto, voto contra ,e, por mim, era enfiá-los numa fogueira e dançar à volta. Ladrões de moods.

(É hormonal este ódio, tenho a certeza!Para a semana ja penso que são todos uma jóias...certamente).

"Ah coitadito(a), é assim contigo porque aprecia muito a tua forma de ser…" – dizem os menos fervorosos, mais pacientes e provavelmente menos cansados.

Mas, não estou convencida.

Quem aprecia, declara, elogia e pergunta de forma frontal algo que queira saber. Até pergunta se não te importas que te copiem o gosto, o mood, a expressão ou o que quer que seja. Essa gente é a minha gente.

Gostas, elogias, declaras abertamente. E assim sendo, nunca ouvi um não nem neguei esse tipo de informação, e, muito pelo contrário, até considero bastante lisonjeiro quando a mim se dirigem nesse sentido.

Compreendo que nem todos tenham o mesmo à vontade, que nem todos tenham a mesma segurança, confiança ou amor-próprio para se predisporem de forma humilde a estas abordagens mais directas. 

Eu tenho coração, juro, e tento ver a parte menos escura destes encostos encarnados. Garanto-vos que tento, e, em momentos como o de agora, tento com muita força…mas, se estas criaturas têm ardil para a crítica invejosa disfarçada de piada, se têm atenção a todo o detalhe de vida alheia, se conseguem dissimular até as expressões mais naturais dos outros tal e qual raposinhas peludas e manhosas (daquelas que amava esfolar e fazer golas para o Inverno), porque é que não pegam nessa habilidade toda e a canalizam para o cultivo do seu ser em vez e andarem como corvos à volta do outro?

Pergunta para queijinho, em Trivial Pursuit 30 years Edition.

© 2024 |Com|tudo. Blog by Marta Carneiro. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Webnode Cookies
Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora