Quem muda...

Tal como a qualquer comum mortal com mais de dois neurónios funcionais que ainda fazem sinapses entre si, foram várias, as questões que até à data esbofetearam este meu cérebro (algumas com força e violência, não nego).
Entre muitas, há uma que ainda hoje me persegue sem resposta definida e cuja mutabilidade com que a vivi ao logo dos anos, não sei se me assusta, se me alivia, se me define ou se pura e simplesmente será para sempre uma incógnita, |Com|tudo, sinto-a sempre bem vinda quando comigo esbarra.
Por feitio ou defeito, nunca fui avessa a ela.
Na verdade até gosto, mais do isso, honestamente até preciso, mas não me vou desviar do tema e vou voltar ao âmago da questão, que é o que verdadeiramente importa agora.
Mudanças, mudar, mudarmos…eis algo sobre o qual ainda não consegui ter uma opinião definida em relação aos demais.
A primeira vez que me lembro de pensar sobre mudanças deve ter sido quando vi o Rei Leão (pré Pixar evidentemente) e há uma cena em que aquele macaco azul com um pau, acerta na cabeça do tenro Simba uma grande mocada, a seguir repete a proeza mas o Simba desvia-se, surge qualquer coisa como "Mudar é bom."- diz o macaco, e o projecto de leão responde: "mas não é fácil…"(ainda com o peso da moca na testa da primeira investida"…está certo.
Ensinaram portanto ali a uma mini Marta que mudar é bom, implica dor, aprendizado, mas que tendo em conta o sucesso do Simba no fim da película a mudança compensa e todos somos capazes de mudar por um propósito válido. Lição apreendida. ( depois de chorar o filme inteiro com pena do Simba porque o Mufassa foi assassinado pelo retardado do Scar).
O que não me ensinaram no filme, nem nos anos seguintes foi que, nem todos estamos dispostos a mudar, não me ensinaram que a mudança existe e concretiza-se para quem está disposto a sofrer por ela e que mudanças impostas e/ ou exigidas por terceiros regra geral, nunca dão bom resultado porque de uma forma global e quase matematicamente certa, não acontecem.
Assim de uma forma menos simpática do que no filme animado e a uma Marta já mais graúda foi ensinado e por ela apreendido (a estalo, pontapé, frustração e revolta) que as pessoas não mudam, era o dogma, a verdade incontestável que tinha em relação à mudança.
Em português curto e grosso, "pau que nasce torto tarde ou nunca se endireita" e assim, uma pequena Marta que acreditava que era sempre válido o crédito a dar aos outros, ao fim de uma série de desilusões, desgostos e decepções, tornou-se descrente na capacidade da humanidade de vez em quando fazer uns upgrades e desistiu de tentar ir resgatar anjos ao Inferno. Sensata.
Às queimaduras de 3º grau que aquilo dava, mais valia deixa-los arder e aproveitar as asas para fazer candeeiros de penas.
Ao longo dos anos em que fui (e não sei se não continuo a ser…) fiel adepta da ideia do "Ninguém muda, ninguém foge ao que é" e de ter guardado essa ideia num baú escondido e esquecido, recordo-me de uma vez ou outra alguém me dizer "olha ali aquele melro, tem bons braços, carrega bem uma cómoda Luis XIV, era jeitosinho para fazer mudanças" e pronto…era o máximo de atenção que o tema em mim despertava. Mudanças de mobilia. Abafei o dano da expectativa causada pela mudança, por uns valentes tempos.
Vida que segue e vida que ensina, claro está.
Por estranho que pareça e contra todas as (minhas) crenças mais profundas, mesmo não acreditando na mudança alheia, dás por ti a mudar, procuras mudar, mudas de emprego, mudas de casa, mudas de aparência…e esta viagem toda desde que nasces é sobre mudar.
Assustador. Para mim foi assustador.
O pânico instalou-se, quando percebi que até as atitudes mudam. A mudança acontece aos poucos, mas existe. A vida é sobre mudanças.
Por uma questão de lógica e de humildade, não sou certamente o único alecrim dourado a mudar, haverá outros que mudam, haverá certamente quem se transforme, reinvente e adapte às circunstâncias e mais profundamente mude até como manifesta o que sente.
Já o sentir…continuo crente de uma forma muito pia, que isso ninguém muda. Acho que sentimos da mesma forma como quando cá chegamos, aprendemos é a lidar com isso, se formos minimamente inteligentes, de uma forma mais sensata, sobretudo mais adaptada aos interesses de vida de cada um.
E foi assim, nesta epifania de que se calhar ninguém muda o cerne, mas todos mudamos tudo e sobretudo como lidamos connosco, com o mundo ao longo do crescimento de cada um, que me assumi como fervorosa adepta das mudanças.
É essencial mudar, a mudança é a irmã corajosa mas mais tímida da evolução.
È por mudar que muda a energia em nós. De empresa, de área, de trabalho, de país, de decoração, de casa, de mobilia…também. É nesta transformação que nasce aquele nervoso miudinho da expectativa, que nos faz sentir mais acordados e atentos para tudo.
È nas mudanças que surgem as expectativas, as esperanças, os sonhos, os planos e todo o caos que nos acorda, antes de efectivamente algo novo acontecer.
È na ansiedade que precede um momento que nunca vivemos e que está para acontecer que encontramos a maior coragem e nos descobrimos tal como somos, é aí mesmo naquele momento prévio a um mergulho no desconfortável e no desconhecido que descobrimos de facto do que somos capazes e pelo que somos tão capazes.
Mudar é um tónico de luz na vida, mais do que uma capacidade é uma necessidade básica de quem quer mais.
Não tenho dúvidas que realmente,, "mudar é bom, mas não é fácil" e ainda hoje, sem saber se morremos originais ao que nascemos ou não, a única garantia que tenho agora é que se nada muda, mudemos nós.
Para já, é o que sei, um dia mudo.
Parece-me.